quarta-feira, 26 de outubro de 2011

UNE participará de marcha da CNTE pelos 10% do PIB para educação



A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) organiza para o próximo dia 26 de outubro, quarta-feira, grande mobilização nacional em Brasília para reivindicar 10% do PIB para educação, bandeira que os estudantes também lutam por sua aprovação no Congresso Nacional. A marcha pretende reunir mais de 10 mil pessoas.

A concentração da marcha está marcada para as 9h, em frente ao estádio Mané Garrincha. De lá, os manifestantes caminharão até o Congresso Nacional para a realização de um grande ato.

A principal reivindicação da CNTE diz respeito a salários melhores para os educadores, mas, de acordo com o presidente da Confederação, Roberto leão, investir em infraestrutura nas escolas e universidades do país também é um prioridade: “Precisamos de melhores condições em bibliotecas e laboratórios, por exemplo, para aumentar o incentivo à pesquisa”, comentou.

O presidente da UNE, Daniel Iliescu, aponta como principal objetivol do aumento do investimento em educação a erradicação do analfabetismo. Ele completa: “E todo esse dinheiro deverá ser destinado para melhorar a estrutura das escolas, o pagamento de salário digno aos professores, a excelência do ensino público na periferia das cidades e nas zonas rurais de todos os municípios, além da ampliação do acesso e da qualidade nas universidades para todas e todos”.

Em frente ao congresso, também, estarão expostos trabalhos de alunos de estudantes de escolas públicas, feitos para uma mostra cultural organizada pela CNTE, com o tema “Por que 10% do PIB para a Educação Pública?”.

Fonte: UNE

Estudantes protestam contra fechamento de curso




Alunos do Ensino Médio vão realizar na tarde da próxima quarta-feira (26) um protesto na USP Butantã contra o encerramento antecipado do cursinho Pró-Universidade, fornecido gratuitamente pela Universidade de São Paulo para 4 escolas da Zona Leste da cidade.

A decisão encerra o curso preparatório um mês antes da Fuvest e demais vestibulares, prejudicando o aprendizado dos cerca de 1200 estudantes da rede pública que estavam matriculados. O curso é uma parceira entre a Fundação Tide Setubal, a Escola de Artes Ciências e Humanidades da USP (EACH) e o Governo do Estado de São Paulo e a justificativa para a medida foi a falta de tempo para repassar as verbas para a manutenção do curso.

Segundo Laís Cenbrone, uma das organizadoras da manifestação, os professores, que são graduandos da USP, e funcionários das escolas teriam recebido atrasos no pagamento desde o início do projeto. “Recebemos a informação no início do curso que a Fundação Tide Setubal já havia liberado R$300 mil para o curso. Organizamos o protesto para termos uma maior clareza do encerramento do curso”, completa Laís.

Eles chegaram também a criar um evento no facebook para divulgar a manifestação, que ressalta o tom pacífico do protesto. As escolas que abrigavam o projeto são EM Armando Cridey Righetti – Itaim Paulista, a EE Engº Hugo Takahashi – São Miguel e a EE Almirante Custódio José de Melo – Penha; EE Profº Valace Marques – Ermelino Matarazzo.

Vivian Fróes

Fonte: UNE

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

ANPG convoca campanha pelo reajuste das bolsas de pesquisa

Ocorreu reunião da diretoria da ANPG na última sexta-feira (21), no auditório do Museu da República, Rio de Janeiro (RJ), durante as atividades da 7ª Bienal da UNE

Entre as pautas, a diretoria fez uma atualização das suas opiniões acerca da situação política do país, definiu a realização de uma campanha de valorização das bolsas de pesquisa, e deu início à organização do próximo Conselho Nacional de Associações de Pós-Graduandos (CONAP).

Participaram da reunião cerca de 30 pessoas, entre diretores da ANPG e representantes de APGs, de pelo menos 10 estados diferentes. No sábado (22), as bandeiras da campanha de bolsas definidas pela diretoria já estavam na rua, compondo o mosaico da Culturata da 7ª Bienal da UNE.

Mobilizações
Sobre o primeiro assunto da reunião, houve um rico debate que apontou a importância da ANPG ter se posicionado favoravelmente à candidatura de Dilma Rousseff no segundo turno das eleições. Ao mesmo tempo, discutiu-se a necessidade de se fazer pressão para que as pautas em prol do desenvolvimento do Brasil sejam atendidas.

Neste sentido, foram reforçadas pautas relativas à Educação e Ciência e Tecnologia, tais como a exigência de reposição dos 600 milhões cortados do orçamento da C&T; a garantia de 10% do PIB para a educação; a quebra do veto de 50% do fundo social do pré-sal para a Educação e importância da destinação desta verba também à C&T.

Durante as discussões, as sinalizações de ajuste fiscal e a dificuldade de negociação do salário mínimo de R$ 580,00 foram apontados como elementos que denotam a necessidade de mobilizações. Esses pontos também foram contrastados com o aumento dos salários dos poderes legislativo e executivo, que no menor dos casos chegou a cerca de 60%.

Campanha de bolsas
O segundo ponto tratado na reunião foi a campanha de bolsas da ANPG. Os estudantes discutiram a necessidade de reajuste do valor das bolsas de mestrado e doutorado, que já estão sem reajuste há três anos, como foco da campanha.

A reunião decidiu organizar um abaixo-assinado pela bandeira definida, assim como pautar uma audiência com a presidente Dilma Rousseff, para que os pós-graduandos possam apresentar a sua pauta.

A intenção da ANPG é realizar uma caravana com APGs de todo o país a Brasília no momento dessa audiência com o governo. Os textos do panfleto da campanha e abaixo-assinado serão em breve divulgados na página da ANPG.

A campanha de bolsas é uma luta constante do movimento nacional de pós-graduação. No final de 2010 foi realizada uma ofensiva dos pós-graduandos no Congresso Nacional pautando a valorização das bolsas de pesquisa, com direito à proposta de emenda ao orçamento e articulação com deputados e senadores em favor da pauta.

CONAP
O terceiro ponto da reunião foi a realização do próximo Conselho Nacional de Associações de Pós-Graduandos (CONAP).

Os diretores presentes definiram prioridade de realização no Nordeste (Pernambuco ou Ceará), mas abriram a possibilidade de realizar o CONAP também no Rio Grande do Sul ou em São Paulo. A decisão final caberá à executiva da ANPG. O indicativo de data é 21 a 24 de abril, coincidindo com o feriado do Dia de Tiradentes, em referência à Conjuração Mineira.

Outra decisão é que o Seminário para debater as Organizações Sociais (OS) será realizado de forma casada com o CONAP.

Informes
Foram passados na reunião informes sobre a atuação da ANPG no Conselho Técnico Científico (CTC), que realiza a Avaliação Trienal da CAPES; sobre o acompanhamento da entidade na comissão do Plano Nacional de Pós-Graduação (PNPG); sobre a atuação da entidade nos Conselhos Nacionais de Saúde e de Juventude (CNS e Conjuve). Houve ainda outros informes, como os das atividades das APGs e de outros espaços de atuação da ANPG.

Por fim, foram aprovadas cinco moções, bem como a resolução de que a ANPG defende a quebra do veto da presidência à garantia de 50% do Fundo Social do Pré-Sal para a Educação.


Moções aprovadas

Moção de repúdio ao corte e pela recomposição imediata dos Orçamentos do MCT e do MEC

Moção em defesa da garantia dos direitos trabalhistas nas Instituições Privadas de Ensino Superior

Moção pelo aperfeiçoamento dos instrumentos de avaliação do ensino superior privado no país

Moção de solidariedade às vítimas das enchentes e de apelo ao poder público

Moção em defesa do auxílio moradia aos médicos residentes


Fonte: UNE

Juventude lança "Carta aberta à presidenta Dilma Rousseff"

Durante as atividades da 7ª Bienal da UNE, o Conselho Nacional de Juventude (Conjuve), em conjunto com a Coordenadoria da Juventude do Município do Rio de Janeiro e outras organizações do movimento social realiza o “4º Diálogo Nacional de Movimentos e Organizações Juvenis”. A atividade fez parte da programação da manhã do penúltimo dia da 7ª Bienal da UNE.

À mesa o secretário geral da juventude do PDT, Darcy Gomes, a professora da Universidade Católica de Salvador, Mary Castro, o presidente do Conjuve, Gabriel Medina, o presidente do CPC da UMES, Gabriel Alves, a antropóloga, pesquisadora e professora da UFRJ, Regina Novaes. O vice-presidente da UNE, Tiago Ventura e dirigentes de juventudes partidárias também estiveram no debate, que tinha como missão elaborar uma carta aberta à presidência da república com as reivindicações da juventude para o próximo período.

“Queremos um lugar para a juventude no plano nacional de desenvolvimento para o Brasil”, afirmou o presidente do Conjuve ao iniciar os trabalhos. A construção da 2ª Conferência Nacional de Juventude, a proposta da UNE no Plano Nacional de Educação (10% do PIB para a área de ensino) estiveram na pauta do “Diálogo”.

Esteve em destaque, a necessidade de que a Secretaria Nacional de Juventude tenha status de ministério, ganhando mais respaldo e financiamentos para a execução das Políticas Públicas de Juventude (PPJs). “É preciso avançar com a Política Nacional de Juventude”, pontuou Darcy Gomes, que representa a juventude partidária no Congresso e sabe bem o que significam as conquistas no legislativo.

“Já são mais de 50 milhões de jovens brasileiros com idades entre 15 e 29 anos”, afirmou participante em sua intervenção defendendo que é preciso sim ter um outro olhar para essa camada da população que, se antes era o futuro do Brasil, agora é o presente. “A juventude é o espelho retrovisor da sociedade”, concordou Regina Novaes, demonstrando que essa população é também um balizador do pensamento da sociedade. “A juventude é mais um canal, por isso é hora de ganhar corações e mentes”.

“Estamos investindo em temas que convergem com aqueles defendidos pelo Conjuve. Muitos pontos da ‘Carta’ com certeza estarão na nossa jornada de Lutas”, afirmou Ventura, convocando às ruas no mês de março todas as juventudes presentes.

Medina afirmou que a juventude está indo às ruas para lutar por seus direitos e por mais conquistas, e tem o apoio dos movimentos sociais. O presidente da União da Juventude Socialista (UJS), André Torkarski saudou a UNE por abrir espaço para o encontro. Ele ressaltou que o documento final produto do ‘4º diálogo’ tem o objetivo de “reunir os pontos em comum com as diversas organizações sociais”. Ele defendeu, por fim, que a “juventude deve ser protagonista” do projeto de desenvolvimento que se desenha para o Brasil.

Mari Castro, por sua vez, declarou que não considera o termo ‘protagonismo juvenil’ o mais adequado. “O jovem é um sujeito político de mudanças sociais. É ele quem vai reinventar o jeito de fazer política”.

Todos defenderam que é grande a expectativa para a 2ª Conferência Nacional de Juventude. “Que seja um espaço de reflexão e debate crítico ampliado com toda a juventude. Isso e é papel de vocês”, provocou Mari ao concluir.

Leia o documento resultante do debate e endereçado à presidenta Dilma Rousseff

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

O beijo na Bandeira Nacional: Dilma, primeira Presidenta brasileira

No início deste ano elegemos mais um presidente para o nosso Brasil. A diferença das outras eleições é que pela primeira vez na história do Brasil foi eleita uma mulher para assumir o país.

Abaixo segue um artigo de uma garota mineira que sempre ouviu o pais falarem sobre política e ao ver uma mulher assumir a presidência do Brasil sentiu vontade de escrever e deixar registrado seu pensamento.

Leiam, vale a pena!!!

Denise de Paula Resende
Belo Horizonte, MG


Sou mulher e tenho 28 anos. Até os 15, morava na capital paulista, onde nasci. Vivi em casa, desde criança, no mundo de Lula. Meu pai era metalúrgico e trabalhava nos movimentos sindicais e, depois, partidários. Cresci nos ombros dele em grandes comícios do PT, gritando LULA LÁ e balançando as bandeiras que minha mãe mesma confeccionava. Lula lá, brilha uma estrela... Talvez eu não entendesse o que era o “lá”, mas eu sabia bem que uma estrela brilhava. Eu gostava desse verso. PT era o Partido dos Trabalhadores e meu pai era trabalhador. Eu também sabia disso porque quase não o via em dias de semana. Crescia assim. Era menina que ia a reuniões de partido, fazia boca de urna e ouvia bem atenta as histórias sobre a ditadura.Na verdade, sempre quis ser um pouco mais velha e pintar meu rosto para comparecer nas Diretas Já. Meus colegas do colegial eram liberados do horário de aula para participar desse movimento. Sentia pesar por não ter nascido pelo menos uns 10 anos antes. Vivi o LULA LÁ, no grito; e, no meu primeiro voto, venci com o AGORA É LULA. Também levei o Lula para a faculdade. Em minhas pesquisas de iniciação científica e de mestrado, constou o nome desse agente político quase como uma marca registrada, um rastro.

Pergunto-me: por que nasce agora este anseio de escrever sobre o que sinto hoje, depois de tanto tempo inerte diante do idealismo sob o qual fui criada? No dia 1º de janeiro de 2011, marejei olhos, coração e razões com o que mostraram as sem-número de telas espalhadas pela vastidão deste país. Aquelas e aqueles brasileiros que puderam estar em Brasília foram privilegiados por fazerem juntos a amplitude de mais uma reatualização do canto “olê, olê olê, olá, Lula, Lula”, como gesto de despedida ao Homem. Foram oito anos de uma história impagável de um presidente chamado Lula e, atrás dos oito anos, mais do que o dobro de tempo de uma outra história, aquela que o levou ao poder. Foi o lado de lá passando para o lado de cá. A margem ocupando o centro. Não era uma tomada de poder, mas era o povo, privado desse poder por anos a fio, chegando lá, orgulhando-se de ser representado por Ele, que foi pobre e que é povo.

Em ocasiões diversas das celebrações da posse da nova Presidenta, boa parte das emissoras “limpou”, em suas retransmissões, a força dessa expressiva voz do povo. Não duvidemos: preferiram que nós tivéssemos mais ouvidos para a almofadada voz de seus comentários enaltecedores e cheios de malícias que ludibriam. Preparam-se para continuar sua missão de formar imaginários viciados em manter a classe dominante no poder, desenvolvendo sempre projetos obcecados pela marcha alienadora da produção de opiniões massificadas – uma outra ditadura, tão silenciosa quanto perigosa. Visões perigosas que querem não torturar, mas entortar olhares; vozes que não autuam, mas que algemam a capacidade de autonomia para a reflexão crítica. Vão continuar não admitindo que Lula é um dos homens mais respeitados do planeta, querendo retirar-lhe a honra tatuada em seu nome.

Entretanto, essa a que chamam grande mídia me parece à beira de uma mudança motivada pelo próprio avanço de tecnologias de informação – elas sabem disso. Não é possível, definitivamente, dizer mais que haja grandes e pequenas mídias. Os instrumentos de comunicação de nosso tempo diluem fronteiras freneticamente, tornando-as cada vez mais móveis, e têm forte poder de disseminação. O lugar virtual em que divulgarei este meu texto, por exemplo, pode torná-lo mais acessível do que um artigo publicado em um jornal impresso diário de grande circulação. Quero, pois, que minhas idéias voem feito passarinho, pois borbulham palavras nessas veias recém-chegadas a 2011.
Entendo nossa época assim. As beiradas sociais ganham voz e ocupam o centro. Esse evento se movimenta devagar, imperceptivelmente para alguns. Essa é uma marca do nosso tempo. Vejam: um operário de força bruta, a quem o destino parecia não reservar mais que o chão de fábrica, blindou-se de todas as Forças, e, um dia, democraticamente, ocupou, com uma inteligência social inédita, o maior cargo de gestor público, levando a força do povo para o núcleo do poder formal. Lula hoje é reconhecido mundialmente como pensador da paz que queremos ver. Pensador não só de sociologias, políticas, economias e outras ciências que se dizem sociais.

Observem mais: anda longe a nossa ousadia! As mulheres emergiram e tomaram lugar onde não lhes fora jamais permitido: nos locais públicos de frequentação exclusivamente masculina, nos cargos de administração pública, nos trabalhos de administração, nas ciências, na política, no prazer ou, até mesmo, por opção, nas suas próprias casas. Dos pensamentos feministas e de seus movimentos não é preciso dizer mais. Hoje, queimar peças íntimas nas praças públicas não é resposta. Não há mais o que responder e não é preciso tanta agressividade. Ser mulher é ser mulher. A mulher não precisa disputar com homens. Não há competições, mas parcerias. Lula e Dilma fizeram lembrar essa conjugação. Lula respeitosamente beijou sua sucessora na rampa e Dilma beijou, em um gesto inédito, um dos símbolos de nossa nação. Estamos no tempo em que não há dúvida do espaço da mulher na sociedade e de que seu lugar é algo que se pode discutir pacificamente, em busca de parcerias respeitosas.

Mulheres, mulheres. A elas são atribuídos tantos adjetivos que mostram sua face rosa, como a própria sutileza. Pois bem, as sutilezas de algumas mulheres muito ajudaram nas lutas contra a ditadura, momento mais machista da história do nosso país. De lá, nasceu Dilma – sutil e dura; mulher e proativa. Era possível?! Sim, existiam mulheres assim. Corajosa Dilma: donzela que já ficou presa em torres de castelos de um regime militar cruel e massacrante. Sem tranças, desceu de lá e subiu, poucos anos depois, no sol alto da tão sonhada democracia, a rampa do Planalto. Ela é hoje (pasmem!) chefe do chefe maior das forças armadas, tendo ele que lhe prestar todas as continências. O militarismo dos anos 70, claro, nada tem a ver com o nosso Exército, Marinha e Aeronáutica, mas, naquela época, eram os que haviam tomado o poder. Imaginava Dilma que iria chegar lá? Na verdade, o sangue e o suor de muita gente sujava naquela época a mesma bandeira a que Dilma ofereceu seu beijo, prometendo-lhe o respeito que não recebeu enquanto os homens de fardas preocupavam-se em caçar subversivos.

Essa mulher foi discreta até bem pouco tempo atrás. A maior parte do Brasil a conheceu quase nas vésperas de levá-la ao poder. A multidão também gritou “olê, olê, olê, olá, Dilma, Dilma...”, com uma emoção peculiar, que pude sentir por ser mulher. Tratava-se da primeira Presidenta e também da sucessora de Lula. Eu me convenci ainda mais de que fazer a história não é apenas vê-la. Naquele momento me senti realmente mais mulher! Orgulho e alegria de ser mulher, como disse Dilma em seu discurso. Senti o sangue quente e a possibilidade de movimento. Precisamos de nos movimentar a favor da justiça e do bem comum. Esse é o espírito da mudança que Lula trouxe e que Dilma continuará carregando. A mudança também foi lingüística e escolhida brilhantemente: temos uma Presidenta e não uma Presidente. Por mais que seja aceito o uso da forma Presidente, como um substantivo comum de dois gêneros, a forma eleita por Dilma carrega a flexão de gênero. Que a estranheza que muitos dizem trazer a palavra “Presidenta” provoque realmente estranhamento e sinalize a mudança.

Pergunta o leitor, imagino: aonde vai este texto que prometeu falar sobre beijo e sobre mulher? Decerto o beijo na Bandeira Nacional foi o ato mais solene dessa passagem. Dilma Roussef flertou com a Nação e abriu um campo vasto de metáforas em nosso imaginário: o casamento da Presidenta com o nosso país; ou, para quem não põe fé em casamento, o compromisso de lealdade e respeito à Pátria coberto por um jeito maternal e feminino. Ou ainda um beijo erótico: nosso jovem país nas mãos de uma mulher ousada. O que sentiram as brasileiras e os brasileiros com aquele gesto, na verdade, ultrapassa a possibilidade de elaboração. Ainda é cedo para dizer. A Presidenta Dilma inaugurou um espaço histórico e seu gesto foi a roupa mais perfeita para essa inauguração. Dilma levou sua filha para caminhar pelas ruas de Brasília com aquele antigo rolls royce. A relação entre maternidade e mulher é oferecida para a sociedade, com Dilma e sua filha no carro, como uma forma de acolhimento. Sua filha terá milhões de habitantes como irmãos nos próximos anos. Nas palavras de seu discurso de posse, a maternidade contextualiza a palavra “carinho”, dedicada à filha, ao neto e à mãe. Coragem e carinho são palavras que a Presidenta apresentou caseadas, prontas para serem aplicadas no cuidado que terá com os filhos dessa pátria mãe gentil.

Meus olhos marejaram mesmo quando a nova Presidenta citou Guimarães Rosa. Um trecho belíssimo que coincidentemente exponho, já há algum tempo, na parede do meu quarto: “O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem”. Em face da minha história e, sobretudo por ser mulher, não pude deixar de escrever para falar da coragem que representa o beijo na bandeira. Que ele represente o reconhecimento da mulher nos lugares que ocupa e que ainda precisa ocupar. Que ele desmistifique a liga da competição de gêneros e alimente a união de forças entre homens e mulheres pelo bem da sociedade. Que ele sirva como um símbolo contra os altos índices de violência contra mulheres, crianças e adolescentes. Que ele faça importantes instituições sociais repensarem suas posturas culturais e suas formas de disseminação. Que ele chegue aos grotões e às pequenas cidades que ainda tratam a mulher em esquemas medievais, fazendo-a viver uma vida de enfados, fardada por falsas morais. Que ele sirva para gerar o respeito às escolhas de cada indivíduo e sua repercussão social. Que ele reverbere nos corações dos homens e mulheres mais embrutecidos. Que a Bandeira Nacional não se esqueça jamais do seu primeiro beijo...